COTIDIANO

Muro verde de Doria definha na 23 de maio

Sem água, plantas secam pouco mais de um ano após terem sido plantadas na parede de avenida de SP

Publicado às 8h

Folha de SP

O muro verde inventado e inaugurado no ano passado pelo então prefeito João Doria (PSDB) na avenida 23 de maio, em São Paulo, passou meses sem receber irrigação porque a prefeitura não pagou contas de água e luz referentes ao abastecimento. A falha de gestão contribuiu para a deterioração das plantas, hoje secas.

O jardim vertical foi instalado por uma empresa privada, a Movimento 90º, que aceitou mantê-lo por meio de uma doação ao município, algo incentivado por Doria nos 15 meses que passou na prefeitura antes de abandonar o cargo para disputar a eleição ao governo do estado.

De acordo com o secretário municipal de subprefeituras, Marcos Penido, o pagamento das contas de luz e água e a manutenção do muro verde tinham ficado sob responsabilidade dessa empresa. Em abril, porém, o secretário disse que a empresa desistiu da doação, menos de um ano após a inauguração e bem antes do prazo acordado de 36 meses. A empresa nem sequer pode ser multada, já que tudo foi apenas apalavrado por meio de cartas com a prefeitura.

Sem mais a doadora, os custos de manutenção do jardim, incluindo o pagamento das contas, passaram a ser de responsabilidade da gestão Doria e, a partir da segunda semana de abril, de seu sucessor, Bruno Covas (PSDB). O fato é que, de abril a junho, o muro verde ficou sem nenhuma manutenção.

“Cada contratado tem sua responsabilidade”, disse o secretário de Covas, em relação ao fato de a empresa ter assumido um compromisso e depois não tê-lo executado.

Trocas de emails obtidas pela Folha revelam que a prefeitura só tomou conhecimento do problema em junho. Em email de 20 de junho, por exemplo, o secretário Penido informa aos subprefeitos da Sé e da Vila Mariana que esses teriam de pagar as contas atrasadas de luz e água do jardim vertical.

Diante do corte do abastecimento, funcionários da prefeitura fizeram uma força-tarefa para agilizar os trâmites burocráticos e religar o sistema.

Em outros emails na época, um engenheiro do Ilume (departamento de iluminação) envia mensagem ao subprefeito da Sé, Eduardo Odloak, com cópia para o secretário Penido, dois gerentes da Eletropaulo e o diretor do Ilume no qual detalha os valores das contas de luz não pagas.

Em um trecho, ele explicita que “as ligações haviam sido cortadas devido ao não pagamento”. Em outra mensagem, o diretor do Ilume, departamento de iluminação, cita o “risco iminente da morte das plantas” e pediu aos funcionários da Eletropaulo para priorizar a religação.

Apesar dos emails, Penido hoje diz que o fornecimento de água e luz não chegou a ser interrompido. Segundo ele, a irrigação do jardim ficou prejudicada durante meses por causa de constantes atos de vandalismo, como roubo de fios e mangueiras, que não foram repostos pela empresa doadora. O reestabelecimento do sistema começou a ser feito pela prefeitura somente em agosto.

Em estado de deterioração, o jardim vertical apresenta hoje longos trechos de vegetação seca e danos na estrutura, como hastes quebradas que sustentam a iluminação.

Com 6 km de extensão e orçado em R$ 9,8 milhões, o corredor de plantas na avenida foi uma iniciativa de Doria após grafites coloridos feitos sob a gestão de Fernando Haddad (PT) terem sido pintados de cinza a mando do tucano logo no início de seu mandato.

Na inauguração do jardim vertical, Doria se referiu ao empreendimento como “o maior corredor verde do mundo em um eixo urbano” e garantiu que não iria representar custos aos cofres municipais. Três meses depois, porém, Doria admitiu ter falhado. “Teríamos que convidar os grafiteiros e, com eles, ter feito essa ação, não à revelia deles, mesmo que os painéis estivessem pichados”, disse à época.

Apesar do mea culpa, a ideia do corredor verde segue dando prejuízo ao município. No mês passado, por exemplo, diante de recorrentes casos de furtos de peças do sistema de irrigação, a prefeitura contratou uma empresa para instalar tampas de aço para vedar o acesso aos equipamentos, que agora vão ficar em caixas no subsolo. O contrato custou R$ 31,8 mil.

A prefeitura iniciou também um processo de contratação de empresa para recuperar o sistema hidráulico e elétrico do jardim vertical. Está prevista a reinstalação de ao menos sete bombas ao custo de R$ 32,7 mil, isso sem contar o custo das peças.

Uma vez recuperado o sistema, segundo o secretário Penido, a manutenção do jardim vertical será inserida nos custos habituais de manutenção de áreas verdes da cidade.

O plantio das árvores nas paredes foi feito a partir de um termo de compensação firmado entre a prefeitura e uma construtora, e executado pela Movimento 90º. A construtora havia derrubado cerca de 800 árvores para erguer um prédio no Morumbi, ainda na gestão de Gilberto Kassab (PSD), em 2012, e usou o muro da 23 de maio para quitar essa dívida ambiental com o município.

Na prática, porém, essa compensação nunca ocorreria. Segundo especialistas, para ter relevância ecológica, o jardim vertical da 23 de maio teria que ter 1.500 km de extensão para compensar o desmatamento da construtora na obra do Morumbi.

A ideia de jardins verticais também durou pouco. Após a instalação de oito deles na cidade, sendo sete no entorno do Minhocão, a prefeitura revogou o decreto que permitia a instalação desse modelo como compensação ambiental por árvores derrubadas em construções.

A revogação ocorreu no mês passado, após questionamentos do Ministério Público. ​A Promotoria de Meio Ambiente alegou que se tratava de uma troca insuficiente. Em seu parecer na ocasião, o promotor Carlos Henrique Prestes Camargo usou o termo “árvores emparedadas” para se referir ao modelo de plantio.

O Movimento 90º foi procurado e afirmou que a obrigação em manter a manutenção do jardim vertical acabou em 15 de fevereiro, quando foi encerrado o termo de compensação ambiental em questão.

MAIS DOAÇÕES DE DORIA QUE NÃO DERAM CERTO

Muro de vidro da USP

A substituição do muro que cercava a raia da USP por um painel de vidro foi anunciada por Doria em julho de 2017. Empresas doaram os materiais para a obra, que incluem 1.222 placas de vidro, avaliadas em cerca de R$ 4.000 cada uma. Mais de 20 placas já instaladas foram quebradas, mas a polícia não sabe quem ou o que teria sido responsável pelos danos. A negociação para a construção do muro não dispõe de um contrato entre as companhias e a universidade, apenas um termo de doação

Trabalho Novo

O programa, que visa empregar moradores de rua com apoio da iniciativa privada, é sustentado por doações. Não existe um vínculo formal da empresa que prepara as contratações e a administração municipal, apenas um termo de colaboração. Por conta disso, a gestão atual não consegue monitorar o projeto adequadamente. A promessa era empregar 20 mil pessoas até o fim de 2017. Até o início deste mês, 2.503 moradores de rua tinham conseguido ocupação

Farinata

Em outubro de 2017, Doria anunciou que a farinata integraria a merenda escolar. Os produtos usados na farinha, feita a partir de alimentos próximos ao prazo de vencimento, seriam doados por empresas. O projeto contrariava normas que regem a alimentação escolar e foi abortado após intensas críticas

Plantio de Árvores

Parceria nunca firmada entre Doria e a Ultrafarma previa o plantio de 600 mil árvores na cidade. A empresa ganhou divulgação da marca em diversos eventos, mas não chegou a doar as mudas prometidas e o acordo nunca foi fechado oficialmente

R$ 626 milhõesem doações foram prometidos por Doria

R$ 5,3 milhões —ou menos de 1%— foram arrecadados até agora*

*Soma de valores dos bens discriminados nos processos de doações até 16/10

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