REGIONAL

Gestão França quer congelar por 18 meses as já atrasadas obras do Rodoanel Norte

Relatórios apontam risco a estruturas já feitas; construtoras estão em grave crise

Publicado às 9h20

Folha de SP

O Governo do Estado de São Paulo, sob a gestão Márcio França (PSB), quer paralisar por um ano e meio as já atrasadas obras do trecho norte do Rodoanel, com custo de quase R$ 10 bilhões. A obra é o maior projeto de infraestrutura no estado e a última parte do anel viário do entorno da Grande São Paulo.

A informação sobre o plano de congelamento da construção consta de ata de reunião com empreiteiras promovida em agosto pela Dersa, empresa estadual responsável por obras viárias no estado. França concorre à eleição para permanecer no posto de governador.

A suspensão dos trabalhos, ainda sem uma data definida, ocorreria em três dos seis lotes do empreendimento, nos de números 1, 2 e 3, mais próximos ao trecho oeste do Rodoanel, que já funciona.

O lote 1 é de responsabilidade do consórcio Mendes Júnior/Isolux Corsan, e os lotes 2 e 3 são tocados pela OAS.

A ata da reunião não aponta o motivo para a paralisação. Indagada pela reportagem, a Dersa também não explicou.

As duas construtoras desses lotes sofreram forte revés desde que passaram a ser investigadas na Lava Jato. Tanto a Mendes Júnior quanto a OAS estão em recuperação judicial e foram declaradas inidôneas pela União —o que as proíbe de assinar novos contratos com a administração federal e dificulta tentativas de obtenção de empréstimos.

Desde 2015, o governo pressiona as empreiteiras pelo ritmo das obras, que está mais lento do que o esperado. A gestão chegou a ameaçar a quebra de alguns dos contratos, o que até agora não ocorreu.
Executivos e um ex-presidente da Dersa foram denunciados sob suspeita de superfaturamento nos lotes 1, 2 e 3. Segundo a Procuradoria, fraudes nos contratos renderam R$ 480 milhões às empreiteiras. Eles negam.

Hoje, a Dersa prevê a conclusão da obra até o fim de 2019, mas, caso essa suspensão ocorra, a estrada ficaria apenas para 2021. A promessa inicial de entrega era 2014.

A Dersa já estuda também oferecer a continuação dos trabalhos para a empresa que recentemente ganhou a licitação para operar a estrada quando ela estiver pronta.

Para suspender a obra, a Dersa já adotou medidas preventivas como obras emergenciais só para resguardar a segurança das estruturas já construídas. Além disso, resolveu uma série de pontos críticos da construção. Essas intervenções beiram os R$ 50 milhões, segundo os projetistas. Relatórios técnicos dizem que, se nenhuma ação fosse tomada, haveria o risco de colapso de túneis e queda de uma torre de transmissão.

Thomaz Buttignol, professor de engenharia da Universidade Mackenzie Campinas, explica que esse tipo de ação tem como objetivo mitigar eventual ação do tempo e o natural desgaste de estruturas.

“Idealmente, uma obra não deveria parar. É preciso saber o que será feito com o cimento que está no canteiro, por exemplo. Se as estruturas de aço estiverem expostas, pode-se gerar até fissuras no concreto”, afirma.

Na reunião, ocorrida no dia 2 de agosto com as empreiteiras, a Dersa requisitou estudos sobre quais medidas preventivas deveriam ser tomadas. “O relatório deve conter alternativas de solução com estimativa de custos para que a obra seja paralisada por até 1,5 anos de forma segura, levando em consideração uma obra totalmente desmobilizada”, diz a ata da reunião.

Os três lotes somam 15 km dos 44 km do trecho norte. Os lotes 1 e o 3 são os que mais preocupam, já que têm obras mais atrasadas. Em junho, esses trechos tinham 74% e 83% das obras concluídas.

Em resposta à Dersa, as empresas projetistas apresentaram seus relatórios sobre o estado das construções.

Em uma dessas análises, sobre o lote 1, a Engevix-Pron disse destacar “as situações que necessitam de tratamento emergencial, sem o qual o risco de acidentes é eminente”. Ali, uma das principais preocupações é com a segurança de um dos túneis. Cerca de 20% dele não tinha um revestimento definitivo, o que seria essencial para garantir sua estabilidade, de acordo com os projetistas.

“A não realização das recuperações estruturais exigidas representa um risco estrutural de colapso do suporte.”

Apenas para o lote 1, a empresa projetista calcula o valor das obras de emergência em R$ 6,4 milhões a R$ 32,2 milhões, a depender das ações.

No lote 3, outra análise constatou as ações urgentes que devem ser feitas para evitar “risco imediato de perdas de vidas ou prejuízo financeiro de grandes proporções”. O relatório é da Maubertec – Setepla.

A principal preocupação também é com um túnel que, segundo os projetistas, deve ter sua estrutura monitorada e reavaliada a cada seis meses.

A empresa aponta ainda que o revestimento de outros túneis aparenta ter infiltrações e espessura menor que a recomendada. Afirma ainda que “o não atendimento da espessura mínima pode acarretar um colapso do túnel como última consequência”.

O relatório também alertou sobre a segurança de uma torre de transmissão de energia elétrica, que abastece parte da cidade de Guarulhos.

“As leituras dos instrumentos estão indicando que a torre tem se deslocado, principalmente após o início das obras de reforço nas fundações”, diz a Maubertec – Setepla.

No lote três, a estimativa de custo das ações emergenciais antes de se paralisar as obras é de R$ 19 milhões.

OUTRO LADO 

Confrontada com os relatórios e a ata da reunião obtido pela reportagem, a Dersa não nega o estudo para paralisar a construção do Rodoanel. A estatal diz que tenta retomar a negociação para a volta das obras nos lotes 1, 2 e 3.

Ainda assim, ao considerar a obra como um todo, a Dersa diz que o Rodoanel não está parado, uma vez que os outros lotes estão em atividade. Segundo ela, o empreendimento está com 85,1% concluídos e todos os pagamentos às contratadas estão em dia. Dos R$ 4,99 bilhões de custos com a obra bruta, o governo já pagou R$ 3,89 bilhões.

Em relação às ações de segurança, a Dersa diz que todas as medidas de engenharia foram adotadas pela equipe da companhia. “Na hipótese, ainda não confirmada, de incapacidade das empresas de continuidade das obras, a Dersa proporá ao governo do estado a possibilidade de o consórcio que operará o trecho Norte assumir a conclusão no lugar das empreiteiras Mendes Jr e OAS”, afirma.

Folha Noroeste

Somos o maior prestador da região Noroeste, com mais de 100 mil exemplares impressos a Folha do Noroeste tem se destacado pelo seu comprometimento com a Noticia e tem ajudado a milhares de pessoas a divulgar os problemas do cotidiano de nosso bairro.

Adicione Comentário

Clique aqui para postar um comentário

Instagram

Instagram has returned empty data. Please authorize your Instagram account in the plugin settings .

Video

Uniquely strategize progressive markets rather than frictionless manufactured products. Collaboratively engineer reliable.

Flickr

  • Guten morgen
  • Kellie
  • Kellie
  • Kellie
  • "Kiez me tender" :copyright: piwiyan
  • Mauvais œil/bonne étoile
  • bonne étoile/mauvais œil
  • Nat cleans the squids
  • Ramadan lamp